Rastros – Regina Valluzzi

Esta obra de arte é, sem dúvida, minha favorita. Se removermos as cores e a visualizarmos em tons de cinza, perceberemos uma surpreendente semelhança com as imagens produzidas pelas câmaras de nuvens e emulsões fotográficas do século passado. É impressionante pensar que grande parte desta obra foi criada a partir de simples respingos, que curiosamente remetem aos rastros deixados nas câmaras de nuvens e emulsões fotográficas.

As câmaras de nuvens, também conhecidas como câmaras de Wilson, foram os primeiros dispositivos experimentais usados para detectar partículas subatômicas. Elas funcionavam capturando fotografias no momento exato em que uma partícula atravessava a câmara e condensava os gases presentes, deixando uma trilha luminosa que era registrada usando técnicas fotográficas específicas.

Por outro lado, as emulsões fotográficas ou nucleares, consistiam em filmes sensíveis que continham cristais de halogeneto de prata de grão fino (AgBr e AgCl) embutidos em um substrato de gelatina. Quando partículas carregadas atravessavam a emulsão, transformavam algumas moléculas de halogeneto em prata metálica, criando um rastro distintivo marcado na emulsão.

Surge então a pergunta: a arte nesta obra imitou a física, ou foram as técnicas utilizadas nas câmaras de nuvens e emulsões fotográficas que imitaram a arte ao adotarem práticas fotográficas da época? Se a resposta for afirmativa para ambas as questões, então existe uma interação recíproca entre arte e ciência que merece ser explorada.

A artista por trás desta obra, Regina Valluzzi, possui uma sólida formação científica em nanotecnologia e biofísica. Ela estudou Ciências dos Materiais no MIT e Música, e completou seu doutorado em Ciências e Engenharia de Polímeros na UMass Amherst. A obra “Tracks” é apenas uma entre várias em que ela explora a relação entre ciência e arte. Valluzzi certamente será uma figura recorrente neste projeto.